
A poluição do rio Lis foi o tema em debate no XI Ideias em Movimento, realizado na passada 6.ª feira, na Biblioteca de Instrução e Recreio da Vieira de Leiria, numa organização da Associação Marinha em Movimento.
Contando com o prof. Mário Oliveira, Presidente da OIKOS e docente no Instituto Politécnico de Leiria e a Dra. Clarisse Bento, delegada de saúde da Unidade de Saúde Pública do Pinhal Litoral, como oradores, este debate contou com uma animada plateia, que o prolongaria para uma duração de 3 horas.
Após uma caracterização da Bacia Hidrográfica do Lis, realizada por Mário Oliveira, falando das suas fragilidades ambientais, resultante das características dos solos por onde passa, mas fundamentalmente da ação humana, através: das pedreiras; do uso de pesticidas e adubos; da impermeabilização dos solos; dos efluentes suinícolas e industriais; da rede de saneamento. Estas atividades humanas, entre outras, tem levado a uma perda de biodiversidade, do assoreamento das linhas de água, degradação da paisagem, erosão e contaminação de solos e recursos hídricos, ao longo de todo o seu percurso. Em última instância, a Vieira de Leiria, situando-se a jusante acaba por ser o recetor final de todo o mal que vai sendo provocado no rio, vendo chegar uma água altamente poluída à foz. Mas, como destacou Mário Oliveira, outros males podem acontecer para a saúde pública, com a utilização da água do Lis para a agricultura, sem a monitorização das suas condições para esse efeito, bem como a exagerada deposição dos excrementos das suiniculturas, nos campos do Lis, sem qualquer monitorização do seu efeito na degradação dos solos e na contaminação dos lençóis freáticos.
Alguns dados apresentados, relativos à poluição do rio Lis, acabariam por ser reforçados na intervenção da Dr.ª Clarisse, com a apresentação dos valores de Enterococos Intestinais e Escherichia coli, em análises recolhidas ao longo do trajeto do rio, com dados muito acima da referência máxima, com particular destaque para as análises recolhidas ao longo do concelho da Marinha Grande e que levaram ao desaconselhamento de banhos na foz do rio, pelo facto de poderem provocar doença aguda, diarreia, cólicas, náuseas, dores de cabeça entre vários outros sintomas, com especial risco para a saúde dos bebés e crianças pequenas.
Do debate realizado após as apresentações dos convidados, destaque para a necessidade de lutar pela defesa da Constituição da República Portuguesa, que no seu Artigo 66.º, ponto 2, tem escrito: “Para assegurar o direito ao ambiente, no quadro de um desenvolvimento sustentável, incumbe ao Estado, por meio de organismos próprios e com o envolvimento e a participação dos cidadãos: a) Prevenir e controlar a poluição e os seus efeitos e as formas prejudiciais de erosão;”. Este é um papel que claramente o estado não tem cumprido, no que ao rio Lis diz respeito e está nas mãos da população exigir o seu cumprimento, devendo passar numa primeira fase pela monitorização regular do rio, para, com dados concretos, exigir o cumprimento da Constituição por parte do estado português.
A iniciativa do poder político local foi considerada fundamental, numa fase inicial, na promoção da realização de análises quinzenais ao rio, não apenas no concelho da Marinha Grande, mas sim ao longo de todo o seu percurso, aproveitando o facto de este passar por 4 concelhos, todos eles fazendo parte da Comunidade Intermunicipal da Região de Leira, facilitando assim a articulação e permitindo uma maior pressão sobre o estado, para promover uma efetiva resolução de todos os problemas associados ao rio Lis.
