Afonso Lopes Vieira: O Poeta e o Crente – Uma Tarde de Reflexão e Descoberta
No passado dia 19 de outubro, no emblemático Cosmos Azul e Mar em São Pedro de Moel, decorreu o colóquio “Afonso Lopes Vieira: O Poeta e o Crente”, organizado pela Associação Marinha em Movimento. O evento trouxe à luz uma faceta menos conhecida de um dos grandes nomes da literatura portuguesa, explorando tanto a sua vida pessoal como a sua transformação espiritual, que influenciou decisivamente a sua obra.
Drª Cristina Nobre
O colóquio contou com a participação de dois especialistas que abordaram diferentes aspetos da vida e obra de Afonso Lopes Vieira. A primeira intervenção foi da Dr.ª Cristina Nobre, professora de Literatura Portuguesa e uma estudiosa de referência na obra do poeta. A Dr.ª Cristina apresentou uma análise aprofundada da vida pessoal e literária de Afonso Lopes Vieira, sublinhando como a sua transformação espiritual e o ambiente em que viveu influenciaram a sua escrita.

A intervenção destacou o impacto que a Casa de Férias teve na obra do poeta, não só como refúgio criativo, mas também como expressão da sua fé. A partir de 1917, o ano das aparições de Fátima, Vieira começou a modificar o seu espaço, incorporando símbolos religiosos, como a Capela, que ele mesmo mandou edificar, e a colocação de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima virada para poente, contrariando a tradição. Cristina Nobre mencionou ainda a paixão de Vieira pela fotografia, em especial pelo pôr do sol, um tema recorrente nas suas composições fotográficas. Outro detalhe curioso foi a utilização de conchas nas fachadas da sua casa, em alusão ao seu nome e ao o “imprint” do símbolo da ordem dos Cavaleiros de Cristo, à qual o poeta se dedicou profundamente.
Dr. Marco Daniel Duarte
O segundo orador, Dr. Marco Daniel Duarte, diretor do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima, focou-se nas evidências documentais da transformação religiosa de Afonso Lopes Vieira. Para além dos certificados de registo e nascimento, o Dr. Marco Daniel apresentou relatos históricos que evidenciam a influência de Vieira junto da sociedade da época. Destacou, por exemplo, os peregrinos que, ao longo dos anos, faziam um desvio para visitar a casa do poeta em Leiria, reconhecendo-o como uma figura de devoção e fé.

O Dr. Marco sublinhou também a importância de Afonso Lopes Vieira dentro do clero da época, referindo-se às cartas trocadas entre membros da Igreja, que reconheciam o seu contributo para o pensamento religioso da altura. Uma das revelações mais marcantes foi o facto de ter sido Afonso Lopes Vieira o autor do poema que mais tarde se transformaria no famoso Hino de Fátima: “Avé, Avé Maria”.
Interlúdio Musical Sílvio Pereira
Durante o evento “Afonso Lopes Vieira: O Poeta e o Crente”, os participantes foram brindados com um interlúdio musical especial proporcionado por Sílvio Pereira. Neste momento de ligação entre a literatura e a música, Sílvio interpretou, com a sua voz e guitarra, alguns poemas do poeta, trazendo um toque único às palavras de Afonso Lopes Vieira.

Entre as composições, destacou-se a interpretação do poema “Saudades eu não as tenho”, musicado de forma emotiva e cativante. A música deu uma nova vida às palavras do poeta, criando uma atmosfera intimista e envolvente que tocou profundamente todos os presentes. Este interlúdio foi, sem dúvida, um dos pontos altos do evento, sublinhando a universalidade e beleza intemporal da obra de Vieira.
Durante o interlúdio musical, tivemos o prazer de contar, entre a assistência, com a presença de Anisabel Ferraz e Piedade Martins, que se juntaram a Sílvio Pereira para tornar este momento ainda mais especial. A sua participação e companhia trouxeram uma energia única ao evento, enriquecendo a interpretação dos poemas de Afonso Lopes Vieira com uma envolvência ainda maior.
Um agradecimento especial a Anisabel e Piedade por estarem connosco e por contribuírem para tornar este interlúdio memorável. A vossa presença foi verdadeiramente inspiradora!
Este evento foi uma oportunidade única para conhecer melhor o homem por detrás dos versos, o poeta que, através da sua fé, se transformou numa figura central tanto na literatura como na espiritualidade portuguesa. O colóquio ofereceu aos presentes uma visão mais completa de Afonso Lopes Vieira, não só como literato, mas também como um crente cujas convicções moldaram não apenas a sua obra, mas também a sua vida e o seu legado espiritual.
Visita Guiada à Casa-Museu
O evento terminou com uma visita guiada à Casa-Museu de Afonso Lopes Vieira, onde os participantes puderam ver, in loco, muitos dos detalhes mencionados durante o colóquio. Foi uma oportunidade única para explorar de perto os pormenores da casa que normalmente passam despercebidos aos visitantes ocasionais. Elementos como as conchas incorporadas nas fachadas, a fotografia do pôr do sol e as várias decorações implementadas a partir de 1917 ganharam uma nova dimensão, à medida que a história por trás de cada escolha foi revelada.

A visita proporcionou uma visão íntima da Capela, construída pelo poeta, permitindo aos presentes verem-na através dos olhos de Afonso Lopes Vieira e compreenderem o profundo significado espiritual que o espaço carrega. A experiência tornou-se ainda mais intensa ao sentir a atmosfera de fé que o local transmite, evidenciando o impacto que a casa e o seu dono tiveram na conversão e inspiração de muitas pessoas da região, bem como nas visitas de ilustres que, ao longo dos anos, partilharam estadias na casa do poeta.

Este final de tarde foi, sem dúvida, uma viagem no tempo, onde a combinação de palavras, música e o próprio espaço físico permitiram uma imersão completa no universo de Afonso Lopes Vieira – um universo que continua a inspirar e a transformar aqueles que o conhecem.


Para ver o Colóquio na Integra, click na nossa página Média