
Com o intuito de discutir a situação atual do Pinhal do Rei e o seu futuro, a Associação Marinha em Movimento, promoveu, no passado dia 22 de julho, o seu XIII Ideias em Movimento, pela primeira vez em formato Webinar. Para o efeito convidou um especialista na Mata Nacional (MN), o Eng.º Octávio Ferreira – licenciado em Silvicultura pelo Instituto Superior de Agronomia, chegou à Marinha Grande e ao Pinhal do Rei em agosto de 1978, onde passou a executar o inventário florestal, então em vigor na mata nacional. Saiu em 1983 para exercer o cargo de Administrador Florestal no Norte e regressou em 1987, passando a partir de 1992 e até 2001 a ser o responsável, em várias funções de dirigente, pela gestão do Pinhal de Leiria.
O Eng.º Octávio iniciou a sua intervenção com um enquadramento histórico, ao longo dos séculos, da MN e da sua profunda ligação à população marinhense, destacando a sua importância na instalação das fábricas de vidro na Marinha Grande, bem como da primeira grande fábrica de resina do país, situada no espaço que hoje é conhecido como edifício da resinagem.
Após a referência a alguns momentos importantes no ordenamento da MN, não deixou de falar no flagelo que foi o incêndio de 2017, onde ardeu 86% da área da MN situada no concelho, equivalente a cerca de 9450 hectares (ha), onde, entre muitos fatores foi preponderante a elevada carga de combustível existente, fruto da ausência de limpeza da mata. Referiu, ainda, que foi ignorado o aviso do incêndio de 2003, onde arderam 2450 ha, dos quais, passados 14 anos, apenas cerca de 500 ha estavam limpos, enquanto os restantes quase 2000 estiveram, esse mesmo tempo, a acumular combustível.
Em relação ao futuro da MN, a principal preocupação expressa pelo Eng.º Octávio passou pela ausência de um plano de recuperação, não deixando de apresentar um conjunto de princípios que deveriam ser seguidos, devidamente justificados e orçamentados. Estes passariam pela sua rearborização ao longo de 5 anos, controlo de invasoras lenhosas, beneficiação de infraestruturas (estradas, miradouros, edifícios, parques de merendas, pontes, …) ao longo de 10 anos, num investimento que se situaria próximo dos 12 milhões de euros, cerca de 1 200 000€/ano, para a recuperação da MN.
Após a sua apresentação seguiram-se várias questões sobre a forma como se tem intervindo na MN, desde que se deu o incêndio de 2017, onde realmente a grande tónica passa pela ausência de um plano de recuperação, pois apesar dos muitos estudos e relatórios entretanto realizados, quem gere a mata teria de elaborar um plano que estabeleça o que se vai fazer ano após ano, devidamente orçamentado, pois sem dinheiro não é possível a execução de qualquer plano. Desde 2001 que a Marinha Grande deixou de ter orçamento anual próprio para a gestão da mata nacional.
O Eng.º Octávio deixou muito clara a importância de a mata nacional ter uma gestão e orçamentos próprios, não deixando de falar, também, do problema dos recursos humanos. Salientou que quando chegou à Marinha Grande em 1978, a mata nacional tinha 5 técnicos, 48 guardas florestais e cerca de 100 trabalhadores rurais (atuais assistentes operacionais), situação bem diferente da atual com apenas um técnico, pouco mais de uma dezena de assistentes operacionais e alguns administrativos. Para uma boa gestão da mata deveriam existir pelo menos 2 técnicos, 30 assistentes operacionais e muito importante, um orçamento anual de investimento na MN, referiu o Eng.º Octávio, não esquecendo que nos últimos anos o ICNF retirou um rendimento de cerca de 1,5 milhões de euros por ano, nada investindo em troca.
Em jeito de conclusão, o Eng.º Octávio referiu que quem tem competência para elaborar o plano de recuperação e atribuir um pacote financeiro está a falhar. Quando alguém não cumpre tem que haver alguém que exija. A Câmara Municipal da Marinha Grande tem que agir com mais persistência. O que tem feito não chega, tem que se “plantar” no Terreiro do Paço e não sair de lá enquanto não houver um plano de recuperação para a Mata Nacional.
